11 de setembro de 2009

A CULPA É DO FIDEL

Anna é uma menina parisiense, de nove anos, em 1971. Filha de pais que vieram de famílias burguesas, capitalistas, e se sensibilizam pela causa dos perseguidos políticos pela ditadura franquista na Espanha, Anna não entende a virada. Para piorar a confusão, eles também se engajam em favor da tentativa de revolução comunista no Chile, de Salvador Allende, a exemplo do que já havia acontecido em Cuba. O drama vivido por Anna é o de uma menina que sai de uma casa grande e confortável para habitar um apartamento muito menor, com área reservada para as reuniões dos "barbudos vermelhos”.

O choque entre capitalismo e comunismo acaba se refletindo nas relações familiares, em que Anna, apesar de ter nascido e viver em uma já revolucionada e evoluída França, tem que se habituar às práticas dos pais, por uma América do Sul que não passara nem até hoje passou pela navalha das guilhotinas. Anna vai aprendendo o que é solidariedade, amizade, tolerância, aceitação, adentra o mundo do comunismo. Nasceu na França, sob a social-democracia, onde o Estado não deixa que falte aos necessitados, e hoje paga para que pessoas estudem a vida inteira, porque não há vagas para todos no mercado de trabalho. Além da interessante ambivalência, é estranho rever a década de 70, hoje, com os recursos da internet, que há quase quatro décadas eram inexistentes. A distribuição de informações instantaneamente pode ser enganadora, mas pode-se ter, também, hackers de ambos os lados, por exemplo. Fora a tecnologia, depois de todo o massacre político-ideológico nos anos 60 e 70, e de tudo o que aconteceu, contando a globalização da economia, o discurso dos "barbudos vermelhos" fica pra lá de envelhecido, infantil até. Parte da culpa, talvez, seja mesmo de Fidel.